sexta-feira, 29 de maio de 2009

O homem trocado


O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de
recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.
- Eu estava com medo desta operação...
- Por quê? Não havia risco nenhum.
- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...
E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca
de bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de
orientais, que nunca entenderam o fato de terem um filho claro com olhos
redondos. Descoberto o erro, ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou
com sua verdadeira mãe, pois o pai abandonara a mulher depois que esta não
soubera explicar o nascimento de um bebê chinês.
- E o meu nome? Outro engano.
- Seu nome não é Lírio?
- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...
Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não
fazia. Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na
universidade. O computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês
passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.
- O senhor não faz chamadas interurbanas?
- Eu não tenho telefone!
Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram
felizes.
- Por quê?
- Ela me enganava.
Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas
que não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico
dizer:
- O senhor está desenganado.
Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma
simples apendicite.
- Se você diz que a operação foi bem...
A enfermeira parou de sorrir.
- Apendicite? - perguntou, hesitante.
- É. A operação era para tirar o apêndice.
- Não era para trocar de sexo?

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O que há


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

quarta-feira, 27 de maio de 2009

EXIGÊNCIAS DA VIDA MODERNA


Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão). Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem. O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.
Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia...
E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax. Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.
Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito. As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).
E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.
Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo - e nem estou falando de sexo tântrico.
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia.
A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo! Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher... na sua cama.
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.
E já que vou, levo um jornal... Tchau!
Viva a vida com bom humor!!!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Oração de Força




Que eu continue a acreditar no outro mesmo sabendo de alguns valores tão esquisitos que permeiam o mundo.

Que eu continue otimista, mesmo sabendo que o futuro que nos espera nem sempre é tão alegre.

Que eu continue com a vontade de viver, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, uma lição difícil de ser aprendida.

Que eu permaneça com a vontade de ter grandes amigas, mesmo sabendo que com as voltas do mundo, elas vão indo embora de nossas vidas.

Que eu realimente sempre a vontade de ajudar as pessoas, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, sentir, entender ou utilizar esta ajuda.

Que eu mantenha meu equilíbrio, mesmo sabendo que os desafios são inúmeros ao longo do caminho.

Que eu exteriorize a vontade de amar, entendendo que amar não é sentimento de posse, é sentimento de doação.

Que eu sustente a luz e o brilho no olhar, mesmo sabendo que muitas coisas que vejo no mundo, escurecem meus olhos.

Que eu retroalimente minha garra, mesmo sabendo que a derrota e a perda são ingredientes tão fortes quanto o Sucesso e a Alegria.

Que eu atenda sempre mais a minha intuição, que sinaliza o que de mais autêntico possuo.

Que eu pratique sempre mais o sentimento de justiça, mesmo em meio à turbulência dos interesses.

Que eu não perca o meu forte abraço, e o distribua sempre.

Que eu perpetue a Beleza e o Brilho de ver, mesmo sabendo que as lágrimas também brotam dos meus olhos.

Que eu manifeste o amor por minha família, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exige muito para manter sua harmonia.

Que eu acalente a vontade de ser grande, mesmo sabendo que minha parcela de contribuição no mundo é pequena.

E, acima de tudo...Que eu lembre sempre que todos nós fazemos parte desta maravilhosa teia chamada Vida, criada por Alguém bem superior a todos nós!

E que as grandes mudanças não ocorrem por grandes feitos de alguns e, sim, nas pequenas parcelas cotidianas de todos nós!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Gitanjali (part Two)


"When thou commandest me to sing, it seems that my heart would break
with pride; and I look to thy face, and tears come to my eyes.
All that is harsh and dissonant in my life melts into one sweet
harmony- and my adoration spreads wings like a glad bird on its flight
across the sea.
I know thou takest pleasure in my singing. I know that only as a singer
I come before thy presence.
I touch by the edge of the far-spreading wing of my song thy feet which
I could never aspire to reach.
Drunk with joy of singing I forget myself and call thee friend who art
my Lord".


From Collected Poems and Plays of Rabindranath Tagore - MacMillian

Mulheres


"Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós.

Pare para refletir sobre o sexto-sentido.
Alguém duvida de que ele exista?

E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?

E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?

E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido.
Vai que você pisa numa poça..."
Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...

O sexto-sentido não faz sentido!

É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil...
As mulheres são mães!

E preparam, literalmente, gente dentro de si.
Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?

E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral.
Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...

Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo "coração de mãe" nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).

As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?

Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens...

É choro feminino. É choro de mulher...

Já viram como as mulheres conversam com os olhos?

Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem?

Elas conhecem todos...

Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens!
E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.

EN-FEI-TI-ÇAM !

E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas...

Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus.
E com as mulheres também é assim.

O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem "estar nas nuvens", quando apaixonadas.
É sabido que as mulheres confundem sexo e amor.
E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam.
Algumas até voam.
Mas os homens não sabem disso.
E nem poderiam.
Porque são tomados por um encantamento
que os faz dormir nessa hora."

quinta-feira, 14 de maio de 2009

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Morte Devagar


Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja quem não lê quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

terça-feira, 12 de maio de 2009

A concha



A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.


Por vezes atribuem este poema a Fernando Pessoa,mas ele pertece Vitorino Nemesio que é um poeta açoreano que nasceu em 1901 em Vila da Praia da Vitória, na Ilha Terceira, Açores, e morreu em Lisboa, a 20 de fevereiro de 1978. Ele "era um poeta, um pensador e até filósofo, um homem lúcido nas palavras, de postura descontraída e ao mesmo tempo com uma grande profundidade naquilo que comunicava, fosse simples ou complexo, sempre importante, sempre mágico e absolutamente fascinante".(RTP)

Imagem: 2009 photobucket inc.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A obsessão por ser perfeita



Pergunte a si mesma: assumir tantos compromissos e ser tão tirânica em relação ao seu desempenho está fazendo de você uma mulher mais feliz?

Sou perfeccionista demais!", costumam exclamar algumas mulheres, sem deixar claro se estão se auto-elogiando ou se autocriticando. Por via das dúvidas, saio de perto. Já não tenho paciência para essa busca desenfreada pela perfeição. Quem disse que, ao assumirmos certas atribuições outrora masculinas, teríamos que virar as mestras em eficiência, as PhD em produtividade?

Atualmente, mulheres tripulam foguetes, presidem países e são autoras de descobertas científicas. Mas você, que não é astronauta, nem presidente de nada, nem candidata a Einstein, anda se cobrando insanamente por quê? A independência feminina era pra ser divertida, onde é que deu errado? Sua agenda está mais cheia do que a da Condoleeza Rice. Você não consegue se conceder meia hora para fazer as unhas. Está tão estressada que quase cai em prantos quando seu patrão dá uma bronca. E você não dorme, criatura. Você acredita mesmo que cinco horas por noite é suficiente? Você passa seu creme anti-rugas antes de se deitar e, quando acorda, elas estão todas lá, triplicadas pelo cansaço. E nem adianta tentar encontrar uma horinha para aplicar botox porque sua dermatologista está sem hora livre até agosto - ela é mulher como você, portanto, outra maluca viciada em agenda cheia. Estamos todas perdendo feio para este que deveria ser nosso aliado, mas virou um inimigo: o tempo.

Pergunte a si mesma: assumir tantos compromissos e ser tão tirânica em relação ao seu desempenho está fazendo de você uma mulher mais feliz? Se a resposta é não, pare tudo e troque por um cotidiano mais realista. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista o Culpa Zero. Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo de vida para os outros. Seu pai e sua mãe, se tinham juízo, também não se apegaram a esta expectativa. Você não é Nossa Senhora. É, humildemente, uma mulher. E se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, diga adeus ao melhor dos luxos. Porque luxo não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é encarar qualquer trabalho por dinheiro, não é atender a todos e criar para si mesma a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para receber as amigas em casa. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Para fazer um curso. Engravidar. Ou para conhecer uma cidade bem longe. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem precisar deixar de existir. Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Phillipe Starck e o batom da Mac, mas se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica a beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres 5 estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, ter um luxo de vida.

domingo, 10 de maio de 2009

Conto de fadas para as mulheres do século XXI


Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa,
independente e cheia de auto-estima que, enquanto
contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago
do seu castelo estava de acordo com as conformidades
ecológicas, se deparou com uma rã.

Então, a rã pulou para o seu colo e disse: Linda
princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas, uma
bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta
rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me
transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e
constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe
poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu
jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos
e viveríamos felizes para sempre...

E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã
à sautée, acompanhadas de um cremoso molho béchamel e de
um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava:
'Nem fo...den...do!'.


Este textão NÃO É do Luís Fernando Veríssimo, ainda não foi identificado o autor...bem! não deixa de ser muito legal...

sábado, 9 de maio de 2009

O avesso e o direito.2


Sei que, agora, vou escrever!
Chega um tempo em que a árvore, depois de ter sofrido muito, deve dar os seus frutos. Cada Inverno termina com uma Primavera. Preciso de testemunhar. Depois o ciclo recomeçará.
Apenas falarei do meu amor pela vida. Mas à minha maneira…
Outros escrevem por tentações opostas. E cada decepção das suas vidas dá azo a uma obra de arte, mentira urdida com a mentira das suas vidas. Mas os meus escritos sairão das minhas horas de felicidade. Mesmo naquilo que eles tiverem de cruel. Preciso de escrever, assim como preciso de respirar, porque o corpo mo exige.
Longe da questão fútil da imortalidade, aquilo que me interessa é, de facto, o nosso destino. Mas não “depois”, “antes”.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Destino


Quem disse à estrela o caminho

Que ela há-de seguir no céu?

A fabricar o seu ninho

Como é que a ave aprendeu?

Quem diz à planta «Florece!»

E ao mudo verme que tece

Sua mortalha de seda

Os fios quem lhos enreda?



Ensinou alguém à abelha

Que no prado anda a zumbir

Se à flor branca ou à vermelha

O seu mel há-de ir pedir?

Que eras tu meu ser, querida,

Teus olhos a minha vida,

Teu amor todo o meu bem...

Ai!, não mo disse ninguém.



Como a abelha corre ao prado,

Como no céu gira a estrela,

Como a todo o ente o seu fado

Por instinto se revela,

Eu no teu seio divino .

Vim cumprir o meu destino...

Vim, que em ti só sei viver,

Só por ti posso morrer.

iN:Folhas caídas. 2 ed. Mem-Martins : Europa-América,1849

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O avesso e o direito 1...


Sei que a minha fonte está no avesso e no direito, nesse mundo de pobreza e de luz em que vivi durante tanto tempo, e cuja lembrança me preserva, ainda, dos dois perigos contrários que ameaçam todo o artista: o ressentimento e a satisfação.
A miséria impediu-me de acreditar que tudo vai bem sob o sol e, na história, o sol ensinou-me que a história não é tudo. Mudar a vida, sim, mas não o mundo do qual eu fazia a minha divindade.
Assim foi, sem dúvida, que abordei essa carreira desconfortável em que me encontro, enfrentando com inocência uma corda bamba, na qual avanço com dificuldade, sem estar seguro de alcançar a outra ponta. Dito de outra maneira, tornei-me um artista, se é verdade que não há arte sem recusa nem consentimento.

Posso dizer, e vou dizê-lo daqui a pouco, que o que conta é ser humano e simples. Não! O que conta é ser verdadeiro, e, então, tudo se inscreve nisso: a humanidade e a simplicidade.
E, então, quando sou mais verdadeiro que quando estou no mundo? Sou presenteado antes de ser desejado. A eternidade está ali; e eu espero por ela. Agora, não desejo mais ser feliz, mas apenas estar consciente.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

fRAsE


"Nós nos transformamos naquilo que praticamos com freqüência. A perfeição, portanto, não é um ato isolado. É um hábito"

terça-feira, 5 de maio de 2009

Quando eu sonhava


Quando eu sonhava, era assim
Que nos meus sonhos a via;
E era assim que me fugia,
Apenas eu despertava,
Essa imagem fugidia
Que nunca pude alcançar.
Agora, que estou desperto,
Agora a vejo fixar...
Para quê? - Quando era vaga,
Uma ideia, um pensamento,
Um raio de estrela incerto
No imenso firmamento,
Uma quimera, um vão sonho,
Eu sonhava - mas vivia:
Prazer não sabia o que era,
Mas dor, não na conhecia ...

In: Folhas caídas. 2 ed. Mem-Martins : Europa-América, 1849

segunda-feira, 4 de maio de 2009


" Nasce então a estranha alegria que nos ajuda a viver e a morrer e que, de agora em diante, não recusamos a adiar para mais tarde. Na terra dolorosa, ela é o joio inesgotável, o amargo alimento, o vento forte que vem dos mares, a antiga e a nova aurora. "

In:Do mar bem perto