segunda-feira, 11 de maio de 2009
A obsessão por ser perfeita
Pergunte a si mesma: assumir tantos compromissos e ser tão tirânica em relação ao seu desempenho está fazendo de você uma mulher mais feliz?
Sou perfeccionista demais!", costumam exclamar algumas mulheres, sem deixar claro se estão se auto-elogiando ou se autocriticando. Por via das dúvidas, saio de perto. Já não tenho paciência para essa busca desenfreada pela perfeição. Quem disse que, ao assumirmos certas atribuições outrora masculinas, teríamos que virar as mestras em eficiência, as PhD em produtividade?
Atualmente, mulheres tripulam foguetes, presidem países e são autoras de descobertas científicas. Mas você, que não é astronauta, nem presidente de nada, nem candidata a Einstein, anda se cobrando insanamente por quê? A independência feminina era pra ser divertida, onde é que deu errado? Sua agenda está mais cheia do que a da Condoleeza Rice. Você não consegue se conceder meia hora para fazer as unhas. Está tão estressada que quase cai em prantos quando seu patrão dá uma bronca. E você não dorme, criatura. Você acredita mesmo que cinco horas por noite é suficiente? Você passa seu creme anti-rugas antes de se deitar e, quando acorda, elas estão todas lá, triplicadas pelo cansaço. E nem adianta tentar encontrar uma horinha para aplicar botox porque sua dermatologista está sem hora livre até agosto - ela é mulher como você, portanto, outra maluca viciada em agenda cheia. Estamos todas perdendo feio para este que deveria ser nosso aliado, mas virou um inimigo: o tempo.
Pergunte a si mesma: assumir tantos compromissos e ser tão tirânica em relação ao seu desempenho está fazendo de você uma mulher mais feliz? Se a resposta é não, pare tudo e troque por um cotidiano mais realista. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista o Culpa Zero. Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo de vida para os outros. Seu pai e sua mãe, se tinham juízo, também não se apegaram a esta expectativa. Você não é Nossa Senhora. É, humildemente, uma mulher. E se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, diga adeus ao melhor dos luxos. Porque luxo não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é encarar qualquer trabalho por dinheiro, não é atender a todos e criar para si mesma a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.
Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para receber as amigas em casa. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Para fazer um curso. Engravidar. Ou para conhecer uma cidade bem longe. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem precisar deixar de existir. Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Phillipe Starck e o batom da Mac, mas se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica a beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres 5 estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, ter um luxo de vida.
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Martha Medeiros
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