terça-feira, 21 de agosto de 2007

Saiu em "O Liberal" 18/08/2007.


Live Earth

Se for para salvar o planeta, pode contar comigo pra tudo.
Mas tem que mudar o idioma.
Não é por nada não. Mas Terra, em inglês, não tem combate. Para mim é uma palavra indizível, impronunciável, inarticulável (e ao mesmo tempo, silenciosa, tímida, perigosamente inexata). Duvido que um falante aqui das nossas bandas, com o conjunto de suas cordas vocais no lugar, tudo bem direitinho, afinadinho, acostumado a respeitar a forma e o conteúdo de vogais e consoantes, consiga pronunciar a palavra Terra em inglês sem correr o risco iminente de ter uma síncope por falta de respiração. Duvido.
No mínimo, vai passar por um cruel constrangimento.
Ô palavrinhazinha difícil de pronunciar. Não acredito que alguém, mesmo neste mundo americanizado, digo, globalizado, se desenrole na boa em uma prosa, quando entra na parada a tal da ‘earth’. Para mim, acaba o papo aí mesmo. Até porque não acho que uma palavra que tem duas vogais juntas capitaneando o som possa conter a força do discernimento.
Pior não é nada, depois, o indisciplinado vocábulo, mesmo amparado num desenxabido érre, na seqüência, não desata. Fica no mesmo lugar. E, quase desfalece, quase que desaparece no espaço das ondas sonoras, no final, quando se apega num tê-agá pra tirar a bronca. A fonética, lá deles, ainda complica pregando que este tê-agá tem som de éfe. Assim, não propaga. Não propaga! Para mim, a palavra quando me chega pelas ondas globalizadas, em vez de me levar à segurança, aos encantos e aos mistérios de nosso planeta, parece representar mais uma situação de inquietante instabilidade. Antes que uma palavra, earth, para mim, parece mais um espasmo. Um soluço. Um desacerto na respiração, que seja.
O nosso planeta, em inglês, me chega indeciso, indefinível, com sérios problemas de identidade (mas como então já, um tê com som de éfe?...Ainda mais!.
Tá bom, tá bom. Tô sendo injusto. Tô sendo parcial. Quero porque quero mudar o idioma da resistência ecológica porque sou anti-americano, anti-isso, anti-aquilo, anti-aquil’outro. Então vai lá, vê se cola: a gente, no calor da luta, como um bom falante da última flor do Lácio, acostumado com um Tesão ali, firme, decidido, fortalecendo, encorpando, dando graça à nossa Terra. Vamos nós, lá no furdunço de uma manifestação de protesto lá pelas terras geladas de Davos, gritar uma palavra de ordem assim ‘save the earth, ‘save the earth’. Mas quando que rola! Vão é trazer oxigênio pensando que já somos umas das sofridas vítimas do aquecimento global. Vão pensar que estamos tendo um piripaque. Que estamos lá só arfando, agonizando. O coro não dá o grau da indignação. Em inglês, não pinta o clima de revolta.
Agora, se a gente der uma levada latina...valorizando o Tê linguodental (daquele jeito como em tacacá, tipiti, vatapá, matapi. Daquele jeito, fiel ao som da letra, como prevê a estimada fonologia brasileira) já era: Seria uma coisa assim, do tipo ' salve a Terra’, ‘salve a Terra' ou ‘Tierra’, mesmo, vá lá que seja. Aí sim, aposto como o Bush logo, logo não ia se aviar para assinar o tratado de Kyoto (e outros tantos que houvessem).
Live Earth foi um evento realizado no início de julho com o objetivo de chamar a atenção para o problema do aquecimento global.
Achei bacana a idéia.
Se for para salvar o planeta, pode contar comigo pra tudo.
Mas tem que pôr legenda.
Olha, não é querer falar mal da língua de ninguém, mas, Terra, em inglês, para mim é uma palavra indizível, impronunciável, inarticulável (e ao mesmo tempo, silenciosa, tímida, perigosamente inexata).
Por Raimundo Sodré

Concordo com ele em Genero, Numero e Grau... e ainda digo mais! World é o FIM! Minha ou nossa sorte é que não colocaram Live Earth or the World!
Imagina se tivessem colocado assim?
Nâo sério? falem rapido! - Live Earth or the World!
Acho que é capaz de causar até separaçao de namorados... eles podem pensar que sua mãe nao lhe deu educação e que você esta dando um arroto bem no meio da cara dele!Mas falando sério tem certas palavras em inglês que são o fim da picada!

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