sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Um urubu pousou na sorte do mundo



Afinal, o que está mudando no mundo atual? Esse apagão inexplicável em NY é o indício de que não há mais controle sobre as coisas. O que vem aí? Desde a chegada de Bush que a história entrou num ataque epiléptico. Da noite para o dia, depois de uma eleição fraudulenta, começou o vexame institucional dos USA. Um uburu pousou na sorte do mundo. Desde que esse homem fatal entrou, obedecendo cegamente aos desejos de Osama, desencadeou-se um novo tempo no Ocidente, com confrontos, estímulos ao terror, ataque à Europa, ao progresso humanista e cultural, à ecologia; tudo isso depois de arrebentar o belo superávit americano que Clinton deixara e de abrir o maior déficit público da vida americana. É espantosa a fragilidade do planeta nas mãos dessa anomalia política, com nosso destino determinado por um psicopata texano.
Bush é ativo e passivo, ele é cavalo e cavaleiro do apocalipsezinho de bosta que se montou para a estréia do século 21. Bush é a pista do que acontecerá daqui para frente. Clinton, o último babyboomer, foi a última persistência anacrônica dos anos 60.
Por isso, limpo minha velha bola de cristal e ataco de profeta maluco. De cara, meu pavor maior é que haja o surgimento de uma "cultura do medo" que se institucionalize nos USA. Tenho medo de que Bush consiga neutralizar para sempre a reação dos democratas americanos e estruture uma era bélica e boçal que será sempre realimentada por filhos e netos de Osamas e Saddams. Tínhamos a esperança de que a América fosse a vanguarda da democracia e de progresso técnico-cultural do novo século. Infelizmente, a América não será mais a "solução"; virou problema. Não haverá bonança tecnológica, nem mesmo uma pax americana.
Osama desmoralizou a Razão ocidental no 11 de setembro. Daqui para frente, seremos movidos por eventos aleatórios. Acaba o sonho de se alcançar uma harmonia política futura, um sonho de ordem qualquer. Platão quebrou a cara.
Acabam o happy end, a simetria, a lógica, o princípio, o meio e o fim.
Findou o sonho de "solução", michou a idéia de "futuro redentor". O futuro para o Bush é o passado.
Brinca no ar uma conjunção astral maligna, algo que talvez se tenha sentido nos anos 30, quando Hitler crescia. O inconsciente bárbaro está de novo entre nós. Há períodos históricos em que parecemos precisar da morte. Surge uma fome de irracionalismo, como que uma libertação animal dos freios da civilização.
A chegada de Deus foi a maior novidade do século 21. Só que Deus veio armado, Deus enlouqueceu com seu exército de fanáticos muçulmanos se matando e querendo nos destruir em nome de uma superstição. Quem diria que o novo século, tecnológico e científico, sucumbiria a essas sinistras macumbas? O suicídio veio cumprir a célebre frase de Albert Camus de que "o suicídio seria a maior questão filosófica do século 20". Não. O suicídio é a maior descoberta guerreira do momento e veio demonstrar que os humanos se matam por nada, que somos os mais estúpidos mamíferos da Terra. Acabou o chamado "outro" suave, francês, estruturalista, o "alter ego" da democracia e da tolerância e surgiu o "outro" sujo e mortífero, suicidando-se às gargalhadas.
A visão da morte na mídia é cada vez mais nítida. Depois dos corpos dilacerados pelas bombas, dos meninos sem braços, da valas comuns da África, estamos nos acostumando com a banalidade dos massacres. Não será mais possível esquecer a morte ou através da alienação da indústria cultural ou por sua transformação em espetáculo de efeitos especiais. A morte não mais estará num leito burguês com extrema-unção e família chorando, a morte será um cachorro pelas ruas, atacando de repente.
Diante desse caos, a política virou um parafuso espanado que gira no vazio da vida social. A política já é e será sempre um complemento secundário, apenas uma assessoria para as grande empresas. E sobra para a humanidade de imbecis apenas a política como um show, um balé enganoso. Schwarzenegger é um bom exemplo.
Outra novidade é que o capitalismo não tem mais rosto. E não vai se abrir; tende a se fechar num radical direitismo, partindo para a destruição dos Estados nacionais, como um robô obstinado. O inimigo principal não é mais a burguesia gorda e fumando charuto; o inimigo é um totalitarismo empresarial difuso que ninguém comanda. Agora, os homens progressistas, que se chamavam de "esquerda", não sonham mais com um "absoluto"; sonham com o relativo.
Diante da impotência política total, os grupos humanos tendem a se "balcanizar" em ilhas culturais e psicológicas; as tribos políticas surgirão cada vez mais. Já escrevi sobre isso e repito-o: vem aí, cada vez mais, um tribalismo que recusa o mundo mau sem denunciá-lo, mas aceitando-o como irremediável. Dentro de seu luto, as tribos se desenham. O que os slackers ou os góticos ou os rastas ou os ravers querem é alcançar uma identidade alternativa. Se antes a idéia de alienação era condenável, hoje a alienação é aquilo que se deseja alcançar. Melhor que "ilhas", que dão idéia de unidades celulares, o mundo se "desunifica" em esponja, em vazios, em avessos, em buracos brancos que vão se alargando à medida que o tecido da sociedade "contínua" se esgarça. Não são "células de resistência", mas "buracos de desistência".
A tragédia é que, fora das tabas protetivas das tribos, o resto da população mundial, indefesa e comum, vai precisar de consolos e esperanças, que serão, claro, produzidas pelo mercado das ilusões. Como os dramas vão virar tragédias e as comédias, chanchadas, as coisas vão ficar muito mais dolorosas e difíceis de entender e sofrer. Isso provocará a criação de falsas transcendências, de "profundidades" compensatórias, desde totalitarismos políticos até uma forte indústria de religiões dedicadas à "cretinização" das pessoas, para que suportem a vida.
Poxa, este artiguinho está cheio de esperanças, hein, querido leitor?

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