segunda-feira, 10 de setembro de 2007

As palavras, Eugénio de Andrade


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Quando alguem se expressa nem sempre é entendido e assim soltam vibrações multifacetadas. Cada palavra tem seu jeito próprio, tem aquelas que te ferem, devagar ou rápido mas, ambas doem, do mesmo jeito causando alterações que por vezes nunca cicatrizarão!Tem aquelas que nos invadem e alastram levando-nos incapazes, sem qualquer reação, criando espectativas que serão ou não frustradas! Tem aquelas que nos acalmam dando-nos a sensação de que tudo terminará bem independente da situação alimentando nossa alma.Tem aquelas que não falamos à ninguem, muitas vezes nem em voz alta, para nós mesmos ouvirmos...que estão no mais profundo e abissal interior de nossas mentes. Tem as inseguras que saem propegas com medo, pois sem certeza, de que ninguem as ouça.As palavras-barcos fazem-nos navegar em livros-oceanos. As palavras-beijos acarinham-nos e confortam-nos. Tem aquelas que nos trazem conhecimento e nos preenchem com pensamentos, atos, gestos tornando com o seu brilho clara até a noite.
Existem aquelas que nunca serão ditas pois"vão permanecer caladas por uns tempos porque nem sempre o pensado e sentido deve ser verbalizado".

Imagem LAU SIQUEIRA
BY Bruzudunga

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