domingo, 11 de novembro de 2007

SE PASSARES



Se passares pelo adro
No dia do meu enterro,
Dize à terra que não coma
Os anéis do meu cabelo.
Já não digo que viesses
Cobrir de rosas meu rosto,
Ou que num choro dissesses
A qualquer do teu desgosto;
Nem te lembro que beijasses
Meu corpo delgado e belo,
Mas que sempre me guardasses
Os anéis do meu cabelo.
Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.
Se a minha voz conseguisse
Dissuadir essa frieza
E a tua boca sorrisse !
Mas sóbria por natureza
Não a posso renovar
E o brilho vai-se perdendo ...
- Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Mórbido!...mas reflete meu espírito...pra quem conhece amanha...seria um dia especial pra mim...mas... o destino não quis...então... e só conviver com a dor...que se passam os anos mas não diminui só se acomoda...
António Botto, pra quem não sabe era um escritor português que pelo texto se percebe tinha uma forte personalidade. Tinha um sentido de humor sardónico, incisivo, uma mente e língua perversos e irreverentes e era um conversador brilhante e inteligente. Era amigo do seu amigo, mas ferozmente ruim se sentia que alguém antipatizava com ele ou não o tratava com a admiração incondicional que ele julgava merecer. Este seu feitio criou-lhe um grande número de inimigos. Alguns dos seus contemporâneos consideravam-no frívolo, mercurial, mundano, inculto, vingativo, mitómano, maldizente e, sobretudo, terrivelmente narcisista a ponto de ser megalómano. Era visitante regular dos bairros boémios de Lisboa e das docas marítimas onde desfrutava a companhia dos marinheiros, tantas vezes tema da sua poesia. Apesar de ser sobretudo homossexual, António Botto foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues pois segundo ele: "O casamento convém a todo homem belo e decadente".Com sua vida conturbada veio sua morte conturbada sofria de sífilis e morreu atravessando a rua de copacabana, atropelado por um carro do governo.


ANTÓNIO BOTTO

Sem comentários: